Uma Análise Crítica da Busca Pessoal Policial
22/09/2025

A busca pessoal realizada pela polícia em vias públicas é um tema que frequentemente suscita debates acalorados, equilibrando-se na tênue linha entre a garantia da segurança pública e a preservação dos direitos individuais. No cerne dessa discussão, encontramos a necessidade de analisar criticamente os limites e as condições sob as quais essa prática é legitimada.
É certo que a busca pessoal pode ser uma ferramenta importante no combate à criminalidade. Quando realizada de forma legal e justificada, como no cumprimento de um mandado judicial ou em situações de flagrante delito, ela se mostra eficaz na apreensão de objetos ilícitos e na condução de suspeitos.
No entanto, a problemática emerge quando a busca pessoal é realizada sem a devida fundamentação legal, baseando-se em subjetivismos e generalizações. Alegações de "atitude suspeita" ou "nervosismo" não podem servir de salvo-conduto para a violação de direitos individuais. A jurisprudência tem sido clara ao estabelecer que a "fundada suspeita" deve ser embasada em elementos concretos e objetivos, e não em meras impressões policiais.
A ausência de critérios claros e objetivos abre espaço para abusos e arbitrariedades, como a "pescaria probatória", onde a busca pessoal é utilizada como instrumento para vasculhar a intimidade do indivíduo na esperança de encontrar algo incriminador. Essa prática, além de ilegal, é perigosa, pois mina a confiança na atuação policial e fomenta a sensação de injustiça.
Outro ponto crítico é a questão do perfilamento racial. A busca pessoal jamais deve ser motivada por preconceitos ou estereótipos relacionados à raça, cor da pele, sexo, orientação sexual ou aparência física. O STF já se manifestou sobre a inadmissibilidade dessa prática discriminatória, que atenta contra a dignidade humana e os direitos fundamentais.
É fundamental que a sociedade esteja atenta e vigilante, cobrando das autoridades a adoção de protocolos claros e transparentes para a realização de buscas pessoais. A capacitação dos agentes de segurança é essencial, visando a uma atuação técnica e respeitosa aos direitos dos cidadãos.
Em suma, a busca pessoal policial é um tema complexo que exige um debate constante e aprofundado. É preciso encontrar um equilíbrio entre a necessidade de garantir a segurança pública e o imperativo de preservar os direitos e as liberdades individuais. A legalidade, a objetividade e o respeito à dignidade humana devem ser os pilares que norteiam essa prática, sob pena de transformá-la em instrumento de opressão e injustiça.